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AUXÍLIO AO PRÓXIMO: Advogado reverte venda de livro para ajudar crianças carentes

Filipe Gimenes usa dinheiro para manter projeto que circula por bairros periféricos de Cuiabá e região

Para arrecadar recursos financeiros e dar continuidade a ações de assistência social em bairros periféricos, o advogado Filipe Gimenes de Freitas, de 41 anos, decidiu reverter as vendas do livro "Cristão do Terceiro Milênio", de sua autoria, ao projeto Cisco de Deus, criado por ele e a esposa.


A publicação está à venda na livraria Janina, em Cuiabá. Com o valor arrecadado com as vendas, Filipe consegue comprar bicicletas, brinquedos, alimentos e roupas para doar a crianças de comunidades carentes.


Segundo o advogado, parte do lucro também é destinado para ajudar outros projetos sociais. Desde o lançamento, no dia 16 de abril, cerca de 700 cópias já foram vendidas.


"Acabamos vendendo muitas publicações para conhecidos. Agora queremos atingir mais pessoas de fora desse círculo. Também me disponho a ministrar palestras ou vendas do livro em locais onde me convidarem, sendo que metade das vendas fica para o lugar que me convidar", explicou.

Segundo Filipe, o projeto Cisco de Deus já atendeu cerca de três mil crianças carentes. As visitas com gincanas, concurso de poesias, cursos profissionalizantes e atendimento médico acontecem uma vez por mês na Capital.


Além disso, há também visitas itinerantes, que percorrem bairros periféricos Várzea Grande, na região metropolitana, e Chapada dos Guimarães (a 65 km de Cuiabá).


Apesar do projeto de Filipe ter como foco a assistência a crianças carentes, o advogado contou que os adultos também são beneficiados nos bairros atendidos.


"As crianças vão com pais e avós. Essas pessoas, às vezes, pedem ajuda para conseguir atendimento médico. Levamos também psicológas voluntárias que conversam com as mães e as crianças", disse.


No final do mês passado, Filipe ainda realizou um pré-lançamento do livro em Alagoas. Na ocasião, o dinheiro arrecadado na venda foi revertida para uma casa religiosa chamada "Nosso Lar", que atua em um bairro periférico da Capital.


"Cisco de Deus"


Filipe contou que ele e a esposa decidiram criar o projeto "Cisco de Deus" em 2017, quando ambos faziam trabalhos em um centro espírita da Capital.

O advogado explicou que começou a perceber que não adiantava levar apenas os ensinamentos religiosos à pessoas carentes, já que elas tinham "fome" de outras coisas, como emprego e alimentação.


"Existe a carência espiritual, mas também tem muito a carência material. Uma pessoa que está com dor ou sem condições de ter o que comer não vai ouvir a palavra de Jesus. Ela quer cessar a dor, se alimentar. Então, entendemos que precisavámos abrir o leque para fazermos caridade", avaliou.


A partir do momento em que criaram o projeto, os voluntários, junto de Filipe e a esposa dele, começaram a visitar comunidades carentes de Cuiabá.


A vulnerabilidade financeira das famílias atendidas pelo projeto impressionou o advogado.começaram a visitar comunidades carentes de Cuiabá. A vulnerabilidade financeira das famílias atendidas pelo projeto impressionou o advogado.


"Existe muito carência afetiva por parte dessas crianças, os pais também são muito carentes. Na maioria das vezes, o pai não está presente e a mãe precisa trabalhar durante todo o dia. Essas pessoas querem carinho e amor, querem se sentir amadas. Levamos alimentos e brinquedos, mas o mais importar é fazermos o contato", disse.


Filipe explicou que também priorizou ajudar pessoas carentes de "forma universal", estendendo o olhar para comunidades e bairros distantes da realidade na qual ele e a esposta estavam inseridos.


Por conta disso, o advogado decidiu destinar parte da arrecadação do livro para outros projetos sociais, escolas, igrejas e centros espírita.


"Não posso ser 'bairrista' e ajudar somento o meu projeto. Por exemplo, me chamaram para ajudar o 'Amor em Ação', que atendem pessoas em situação de rua e dependência química. A cada quinze dias levam alimentos, fazem sopão e doações", contou.

Plantando sementes


Durante as ações do projeto, muitas histórias ficaram gravadas na memória de Filipe, porém, uma delas causou maior impacto.


Durante um concurso de poesias na Escola Espírita Irmão Praeiro, no Bairro Jardim Vitória, em Cuiabá, o advogado contou que sentiu ter "plantado" uma semente de esperança.


A poesia vencedora foi escrita por um menino de dez anos. Após a vitória, a mãe dele, que trabalhava na cantina da escola, revelou a Filipe que não esperava que o filho escrevesse uma poesia sozinho.


"O poeta Ivens Cuiabano Scaff gostou muito da poesia dele [do aluno vencedor], disse que era um poema simples e de métrica moderna. Quando escolhemos o poema, a mãe do menino chorou muito.


O pai dele estava preso e a criança já tinha avisado que não participaria do concurso. Mas ele fez e entregou o poema escondido", lembrou Filipe.


Em um desabafo, Filipe entendeu o motivo da angústia da mãe do garoto. Ela contou que o filho já estava descobrindo o "caminho do crime".


Para o advogado, o que falta para uma grande parcela dos brasileiros é oportunidade. Através do projeto "Cisco de Deus" as crianças carentes conseguem ter acesso a livros e palestras. Segundo Filipe, o objetivo da assistência é "ensinar a pescar".


"Não queremos dar o peixe, mas sim dar a vara e ensinar a pescar. Por isso, tentamos despertar na criança a vontade de estudar, para ela saber que pode conseguir mudar a vida dela. Queremos que as crianças tenham esperança, idependente do bairro ou condição social", afirmou.





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