Escrever a mão: artesãs criam cadernos para estimular momentos mais íntimos
Na era digital, qualquer tipo de anotação manual tem sido rara. Isso porque, enquanto apitam os lembretes dos agendamentos diários, checklists inteligentes batem metas “sozinhos” e os aplicativos vigiam a rotina quase como que uma evolução das secretárias eletrônicas nos anos 90, as cadernetas, lápis e canetas ganham outros significados.
Livros para colorir, assim como os cadernos de caligrafia se tornaram métodos “desestressantes”, o que também reforça a ideia que, a cada dia menos, as pessoas associam a escrita manual às obrigações, mas sim ao refúgio da vida acelerada e mecânica que lhes permeiam. Especialistas já discutem a constante digitalização de pequenos hábitos, não apenas das listas de supermercado, mas como em se recusar a traçar caminhos por mapas.
Quem sabe, também em se negar o exercício de lembrar, sem ajuda do Google, o nome daquela pessoa ou a palavra que está “na ponta da língua”, mas custa sair.Talvez, o sedentarismo não esteja apenas em quem se recusa a percorrer curtos trajetos sem estar motorizado, mas em não exercer atividades simples como estas, para usufruir da rapidez digital.
O que, de todo, não é ruim e contribui com a humanidade em diversos adventos – mas tem revelado problemas, inclusive no raciocínio das pessoas em diferentes faixas etárias.Por isso, a hipótese de que a inteligência artificial assombra a saúde dos humanos no século 21 ,e de forma muito simples, o sedentarismo em todas as atividades.
Escrever a mão
Pesquisas indicam que, o hábito de escrever à mão está relacionado ao ato de aprender a escrever.
E, em diferentes níveis de metodologias, não apenas na coordenação motora. Inclusive, as aplicadas às crianças – que são fundamentais.Isso porque o cérebro assimila melhor a atividade e a informação escrita, que exige total atenção, reflexão e memória, o que nem sempre funciona enquanto a informação é apenas digitada.
Não há corretores automáticos nas mãos, o que torna até os rascunhos e suas rasuras, neste caso, importantes.A tecnologia imita o cérebro humano, mas se desenvolve cada vez mais com um conjunto de pessoas e ideias para seus reparos e “atualizações” nos smartphones.
No entanto, o cérebro humano, precisa de cuidados para não ser desumanizado – e se desfalecer se potencializando nas limitações ao invés de ampliar sua capacidade. A artesã Karla Mesquita que, há algum tempo confecciona também cadernos personalizados, acredita que as pessoas escrevem menos a mão, pela facilidade do celular e dos computadores.
Por isso imaginou que o caderninho decorado estimularia essa atividade. “Sinto que acaba se tornando um momento mais intimo que a escrita pelo celular, por exemplo. Meus clientes não dizem exatamente qual a finalidade do uso, mas gostam bastante da possibilidade de escolher suas próprias estampas e número de páginas”, comenta.
Cadernos personalizados com mais adeptos
Karla resolveu fabricar cadernos e cadernetas após ver alguns tutorias no youtube. Entre suas pesquisas, o bullet journal e o planners.
O trabalho manual também agrega o cuidado da personalização, outro significado para quem a encomenda. A cada quatro produções ao menos seis horas são gastas. As cadernetas tamanho A6 de Karla, com 60 páginas custam R$ 12 e o caderno tamanho A5 custa R$ 18.
Além de Mesquita, um grupo de três amigas artistas montaram no instagram e comercializam produtos semelhantes aos de Karla. Com o user @asmimetes, a ideia surgiu após a exposição conjunta em uma feira.
“Pensamos que seria bom vender os caderninhos personalizados e, durante aquele evento, muitas pessoas perguntaram se tínhamos alguma página do instagram ou alguma forma contato conosco. Algumas pessoas fazem desses cadernos um espaço para criar agenda, desenhos, notas, mapa astral e outros”, descreve uma das mimetes.
”Em um momento em que os recursos tecnológicos estão com tudo, o que de certa forma pode alterar a forma como que as pessoas se relacionam com a escrita, talvez ter um caderno personalizado incentive as pessoas escreverem a mão”, reflete. No caso do grupo de amigas, as ilustrações nas capas surgem a partir de músicas, filmes, livros e séries que gostam.
Para fazer os caderninhos elas se dividem, duas se dedicam às ilustrações, que podem ser costuradas ou pintadas, e a outra faz a estrutura do caderno.O tempo de produção e o valor depende da complexidade de cada ilustração e variam de R$ 5 até R$ 8. Já referente às flâmulas, estilo de bordado, o valor também varia de acordo com a complexidade do desenho e das horas despendidas para o bordado.