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Dona Margarida: a parteira dos pequenos heróis - Por Neila Barreto



A preocupação com o nascimento das crianças em Cuiabá e arredores já era do conhecimento de autoridades desde o ano de 1.924, pois a população pobre não podia pagar por médicos e a cidade não possuía parteiras de curso para atendê-la.


Jornal da cidade, à época, denominado “A Luz”, anunciava que: Como a “A Luz” possui em seu corpo de redatores gente de todas as classes, indica o Dr. Agrícola Paes de Barros à disposição das parteiras gratuitamente, que quisessem ser instruídas melhor sobre o ato de partejar, evitando assim, a cegueira e o mal do 7º dia nos nossos patriciozinho”.


Nascia ali uma espécie de treinamento para as mulheres que atuavam nessa profissão, à época, em Cuiabá.


Agrícola Paes de Barros, médico e político em Cuiabá, nasceu em Santo Antônio do Rio Abaixo, atual Santo Antônio de Leverger (MT) a 4 de novembro de 1897 e faleceu a 9 de maio de 1979, com 71 anos de idade. Fundou os jornais A Luz, O FIFO, A Plebe e Brasil Oeste, onde defendia os interesses dos mais humildes. Foi vereador, deputado estadual e federal, inclusive, participando da Constituinte de 1945.


Em Cuiabá, o Departamento do Estado de Mato Grosso instalou um curso para enfermeira, em 7 de novembro de 1938, sob a direção de uma enfermeira do Departamento Nacional de Saúde, auxiliando o atendimento na Santa Casa.


Com o trabalho feito pelas parteiras conhecemos Margarida, nascida Margareth Lina Boss, em Berna (Suíça). Solteira, nunca teve filhos. Cursou apenas o ensino fundamental no campo onde morava e fez os cursos técnicos em enfermagem e psiquiatria.


Chegou em Mato Grosso e atuou como parteira para amenizar essas angústias mato-grossenses, em 1954. Antes Margarida já havia morado na cidade de Juazeiro (BA) e, depois São Paulo. Residiu por dois anos no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, onde trabalhou no combate a verminose e, depois Cáceres (MT), em 1956, sua última morada.


Segundo a historiadora Renata Viana Itacaramby, Margarida trabalhou na Cruz Vermelha, durante a Segunda Guerra Mundial, onde aprendeu o ofício de enfermagem. Foi uma mulher admirada pela população do município mato-grossense de Cáceres (MT).


Para D. Margarida, sua profissão de enfermeira começou por acaso, quando teve que auxiliar uma parturiente, logo após começou a ser requisitada e não parou mais.

Dessa forma, sentiu-se na obrigação de aprender mais a respeito do ofício de parteira, começando a ler doutrinas a respeito e, indo até a Suíça para fazer cursos sobre partos normais usando não só a literatura como também, aprendendo o ofício na prática, trabalhando num hospital na Suíça durante um mês do referido curso.


Em depoimento a Renata Itacaramby, D. Margarida informou que o primeiro parto que ela fez foi na Rua da Manga, em Cáceres. Começou por acaso, pois ela foi chamada para ajudar uma mulher que estava em trabalho de parto e daí não parou mais. Por essa ocasião, Margarida informou que contava com 58 anos de idade. O parto não foi difícil, recordou, Margarida.


Disciplinada, organizada, Margarida possuía todos os equipamentos completos a serem usados em um parto normal. Todos adquiridos da Suíça. Trouxe por ocasião quando por lá esteve para aperfeiçoar seu ofício de parteira, que durou um mês, em um hospital da Suíça. No entanto, sempre recorria aos médicos em casos em que percebia gravidade.


Margarida exerceu o ofício de parteira durante mais ou menos 30 anos, só parando quando sofreu um acidente, onde fraturou um osso da perna, que em virtude de sua idade avançada não conseguiu se recuperar a contento, sendo obrigada a parar de exercer o seu trabalho de trazer ao mundo nossos pequenos heróis, como ela costuma dizer.


Além de parteira, Margarida auxiliava as mamães nos dias que se seguiam, dando-lhes apoio nos cuidados pessoais e com o bebê também. Realizou mais de 3 mil partos na região de Cáceres, sendo a maioria no período noturno, utilizando como meio de locomoção a bicicleta.


Atualmente, essas mulheres estão desaparecendo. Muitas delas morrendo, outras voltando para as regiões de origem ou até mesmo se refugiando no interior do Estado e, com elas parte de suas lembranças que não estão registradas em papel.


Recebeu o título de cidadã cacerense. Foi homenageada pela Associação Mato-grossense de Imprensa, pelo Rotary Clube, mas, segundo jornais da cidade, faleceu em 08 de fevereiro de 2010, aos 96 anos de idade, sozinha e, em condições de saúde desfavoráveis.


(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotícias. E-mail: neila.barreto@hotmail.com

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