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Zulmira Canavarros: Pioneira no futebol

Zulmira Canavarros (1895-1961) foi a primeira mulher em Mato Grosso a fundar um clube de futebol. Trata-se do Mixto Esporte Clube, fundado a 20 de maio de 1934...


Zulmira Canavarros (1895-1961) foi a primeira mulher em Mato Grosso a fundar um clube de futebol. Trata-se do Mixto Esporte Clube, fundado a 20 de maio de 1934. Professora, compositora, pianista e dramaturga. Foi, também, uma intensa ativista cultural e social, além de uma intensa empreendedora.


Nascida a 14 de novembro de 1895, em Cuiabá, como Zulmira d’Andrade Canavarros. Considerada uma mulher de vanguarda e disciplinada, bem como, um gênio musical em Mato Grosso, da primeira metade do século XX. Foi pianista, compositora e arranjadora de talento. Possuía a genialidade, espontaneidade, criatividade e versatilidade para musicar versos, comédias, e teatro de revistas.


Sobre esses aspectos Dunga Rodrigues assim se manifestou: "Os seus ritmos eram muitos inspirados e de sabor regional. Por exemplo: as toadas caipiras, traziam o sabor das matas e do luar. As danças lembravam os requebros primitivos, os pés no chão. A melodia trazia os eflúvios da mata e os meneios caboclos, bem brasileiros.


Parecia que ela própria se envolvia nos ritmos da terra e se embalava com as toadas, as modinhas e os desafios sertanejos. Modesta, nunca se vangloriava de sua genialidade que fluíam em cantos e todas de um sabor tão brasileiro. Eram músicas simples, não restava dúvida, porém de ritmos vários, nas quais a sua genialidade imprimia um sabor da terra, de autenticidade, que só os gênios sabem criar.”


Por volta de 1925, Zulmira Canavarros e Franklin Cassiano montaram várias peças teatrais em Cuiabá. Na década de 1940, vários intelectuais e professores, organizaram espetáculos teatrais. Foram eles Alberto Addor, Gervásio Leite, Ana Pinheiro, Leônidas Mendes dentre outros. Todavia há que se ressaltar que, desde o século XVIII, as peças teatrais montadas e exibidas nos festejos mato-grossenses, não foram aqui escritas, salvo honrosas exceções. A interpretação, a arte cênica sempre foi mato-grossense, todavia, as peças eram importadas em sua maioria. Hoje, esse cenário é diferente.


O Clube Esportivo Feminino foi fundado em 1928 pela professora Zulmira Canavarros, que liderando um grupo de moças cuiabanas criou um clube para recreação, esporte e cultura, à época numa sociedade patriarcal e excludente. O Clube Feminino foi um sucesso e se tornou um polo de cultura e esporte da elite cuiabana. E os esportes começaram a ser jogados de forma mista, por mulheres e homens, o que motiva a criação, em 1934, do Mixto Esporte Clube, que tinha disputas de vôlei e basquete.


Após a fundação do Mixto ambos se separaram em suas trajetórias, se tornando o Mixto um clube centrado no lazer esportivo, e o Clube Feminino no lazer cultural. O Clube Feminino possui sua sede na Rua Barão de Melgaço esquina com a rua Campo Grande, próximo à antiga sede do Mixto, num casarão tombado pelo Patrimônio Histórico de MT, necessitando de um olhar cuidador.


Sobre a fundação do Mixto Esporte Clube, Benedito Pedro Dorileo, em seu livro “Zulmira Canavarros – A Egéria cuiabana (Entrelinhas) relata que o momento da fundação ocorreu na residência da família Hugueney, sobressaindo, também, outra mulher Naly Hugueney de Siqueira. Duas mulheres pioneiras no futebol de Mato Grosso uno.


A reunião aconteceu nos primeiros dias do mês de maio de 1934, escolhendo como local a casa de Avelino Siqueira, situada na Rua 7 de setembro, quase em frente à igreja do Senhor dos Passos, onde estava localizada a Papelaria e Gráfica Avelino de Siqueira, cuja anfitriã foi Maria Luiza Hugueney de Siqueira, viúva de Avelino. Nessa reunião tomaram parte Zulmira Canavarros, Danglars Canavarros, esposo de Zulmira, Naly Hugueney de Siqueira, Carlos Hugueney de Siqueira, Dácio Gomes Pulchério, Raul Santos Costa e Delfino Nonato de Faria, um grupo de sete. Nascia o Mixto Esporte Clube, em 20 de maio de 1934.


À noite, na mesma casa, elegia-se a primeira diretoria, com lavratura de Ata por Delfino Nonato de Faria, assim composta; Presidente: Zulmira d´Andrade Canavarros; Vice-presidente – Carlos Hugueney de Siqueira; 1º Secretário – Delfino Nonato de Faria; 2ª Secretária – Balbina Garcia; 1º Tesoureiro – José Hugo Salla; Orador Oficial – Raul Santos Costa; Oradora Oficial: Maria Alzira Alderett; 1° Diretor Esportivo – Haroldo Cunha; 2º Diretor Esportivo – José Rogaciano de Lima Bastos; 1ª Diretora Esportiva – Odemar Addor; 2ª Diretora Esportiva – Elza Moreira de Barros. Conselho Fiscal: Julieta Gomes da Silva, João Fernandes, Maria Nogueira e Airton Pulchério.


Zulmira Canavarros compôs o hino do O Mixto 'Sport Club' “agora se apresenta”, como um dos mais belos hinos do Brasil. O Hino Oficial, Zulmira compôs ao piano, música e letra, com assistência do Acadêmico Ulisses Cuiabano: “O Mixto Sport Club/Agora se apresenta. /E pelo branco e negro, /As cores que ostenta/No seu pavilhão. /Seremos sempre unidos/E sempre destemidos. /Havemos de lutar/E também trabalhar/De todo coração. /Hurra!... Hurra!.../O Mixto Sport Club/Será o lema/Desta nossa sociedade. /A união e também a lealdade. /Debaixo do nosso céu de anil, /Tremula altaneira/Nossa gentil bandeira. /E pelo sport, em nossa Cuyabá, /Teremos por fanal, /Luctar, luctar, luctar/Por nosso ideal, até hoje entoado por sua vibrante torcida.


A origem do nome e as cores foram decididos pela criação do novo clube por Zulmira Canavarros, Ranulfo Paes de Barros e companhia, que se debruçaram a escolher um nome e as cores para o clube. Várias opções de nomes surgiram, mas, o consenso era com o nome MIXTO. Essa palavra tem o significado de mistura de coisas diferentes, ou opostas. O nome representava perfeitamente a ideologia do novo clube, um clube formado sem preconceitos, por mulheres e homens. É nome próprio (Mixtum, do latim), grafado de acordo com a ortografia da época, antes da reforma ortográfica de 1943.


Zulmira dirigiu 18 peças na Capital, como “Branca de Neve” e “Cala a boca Etelvina”. Um de seus trabalhos que mais chamou a atenção e chocou a sociedade foi a peça “A noiva e a égua”, que mostra as mulheres da época, em que algumas eram submissas, as noivas, e outras as rebeldes, as chamadas éguas e deixou mais de 35 composições musicais. Era exímia musicista e nos tempos do cinema mudo, atuava como pianista do Cine Parisiense. Compunha músicas e hinos para solenidades numa época em que a mulher não tinha muitas chances de mostrar seu valor. Marcou a história de Mato Grosso onde, juntamente com Dunga Rodrigues, começou a desenvolver o rasqueado no piano solo.


É lamentável que em pleno século XXI, muitos ainda, não consigam entender que lugar de mulher é aonde ela quiser, na cozinha, no futebol, no jornalismo, na academia, nos terreiros, nas águas, no ar, nas academias militares, nos espaços, na magistratura, nas artes, nas ciências, na religião, e outros lugares. O interessante é que vivam sem os olhares dos preconceitos, da violência fisica e da violência psicológica. Longe do feminicídio.


Essa pioneira foi uma das fundadoras da rádio Voz d’Oeste, em 1939, primeira rádio de Mato Grosso, que conectava o estado ao resto do país de forma mais rápida. Além dos programas jornalísticos, a rádio oferecia programas musicais, onde Zulmira, ao lado de músicos como Ivo Arruda, Décio Gama e Juvenílio de Freitas, encantavam a população mato-grossense.


O neto de Zulmira, Gilberto Nasser, conta que a avó era uma professora muito dedicada com os alunos. Ele relembra que os alunos reclamavam do tamanho do livro que teriam que ler e ela ajudava fazendo um resumo com papel-manteiga. “Ela lia o livro e fazia um resumo no papel-manteiga. Ela pegava na papelaria os que sobravam e confeccionava o livro”, contou.


Zulmira Canavarros empresta o seu nome a logradouro público em Cuiabá, cuja rua passa em frente ao IFMT – Instituto Federal de Mato Grosso, antes Escola Técnica Federal de Mato Grosso – ETF, ao Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, na Avenida André Maggi, localizado na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, no Centro Político Administrativo, inaugurado em dezembro de 2014. Era casada com Danglars Canavarros.


(*) NEILA MARIA SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotícias.

E-mail: neila.barreto@hotmail.com



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